“O castigo que existe para aqueles que não se interessam pela política é serem governados por aqueles que se interessam”.
Arnold Toynbee, economista inglês do século XIX.

04 janeiro 2010

Bilderberg

Bilderberg
O Império do Mercado


Os alicerces do Império do Mercado foram lançados há cerca de 90 anos, no final da I Guerra Mundial. Desde então teceram-se os canais de uma rede de ligações perigosas, onde se estabelecem sinergias entre a actividade visível e as organizações secretas. A rede maturou entre as duas guerras mundiais e ganhou novo incremento após a II Guerra Mundial. As organizações multiplicaram-se e, em 1960, Friedrich von Hayek fixou o programa do neoliberalismo. Com a queda do muro de Berlim, em Novembro de 1989, e a posterior desagregação dos países de Leste, a globalização neo-liberal apropriou-se da tomada de decisão no mundo. Sob o manto das corporações transnacionais, nasceram instituições, fundações e organizações que produzem ideias, influência e quadros. A elite forma os herdeiros que lhes hão-de suceder nas empresas, no campo político, nos meios académicos e no campo dos media.
O grupo Bilderberg é uma sociedade secreta criada há 54 anos, em Oosterbeek, na Holanda. O presidente honorário do grupo é Etienne Davignon, ex-comissário europeu e vice-presidente da Suez-Tractebel, enquanto o representante português na comissão de direcção é, desde há 17 anos, Francisco Pinto Balsemão, conselheiro de Estado por escolha da Assembleia da República e presidente do grupo Impresa.
O Presidente da República, Jorge Sampaio, e os quatro últimos primeiros-ministros portugueses participaram nas conferências. António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates foram convidados por Pinto Balsemão antes de terem ascendido à governação.
A participação de dirigentes políticos nas conferências secretas de Bilderberg suscitou interpelações no Parlamento Europeu, designadamente em 1998, 1999, 2003 e 2004, e na Câmara dos Comuns (Reino Unido) desde 1996.
Patrícia Makenna, deputada irlandesa ao Parlamento Europeu, questionou a Comissão Europeia sobre a participação de comissários europeus nos encontros desta sociedade secreta. A deputada estabeleceu a correlação entre as competências dos comissários e os temas da ordem de trabalhos dos encontros de Bilderberg. Desmontou também o argumento de que essa participação tinha natureza privada.
Embora insistisse que essa participação se fazia a título pessoal, Jacques Santer, que presidia à Comissão, reconheceu em 1999 que se os comissários «foram convidados a participar nessas reuniões, isso deve-se em grande parte à função que exercem». A Comissão Europeia de Jacques Santer demitiu-se colectivamente, nesse ano, na sequência do relatório do Comité de Peritos Independentes sobre as acusações relativas a fraude, má gestão e nepotismo.
No Parlamento Europeu e na Câmara dos Comuns, as interpelações visaram igualmente a contradição entre essas alegadas participações a título pessoal e a deslocação dos convidados em helicóptero ou viaturas de Estado. O deputado italiano ao Parlamento Europeu Mario Borghezio questionou também em 2004 se essas «filiações ocultas» não podiam criar «graves e insanáveis problemas de conflito de interesses entre as decisões da Comissão Europeia e os objectivos e as decisões secretas».
As respostas foram evasivas. Todavia, a incompatibilidade de papéis, a utilização de meios e recursos dos Estados para apoiar a realização dos encontros, a ocultação da participação dos políticos nesses conclaves e a proibição de acesso a jornalistas por parte das autoridades dos países anfitriões, que chegaram mesmo à detenção e incriminação de profissionais da comunicação social, constituem indícios de derrogação de princípios fundamentais da democracia.
Portugal foi palco de um dos encontros que envolveu, como sucede em todos os casos, um procedimento e um aparato que os precede. As unidades hoteleiras são desocupadas com antecedência e passadas a pente-fino, são estabelecidos vários perímetros de segurança. Apesar disso, a elite não dispensa os seus próprios guarda-costas. Na conferência de Sintra, na Quinta da Penha Longa, um helicóptero sobrevoava a serra.
Os convidados chegam em limusinas de vidros fumados e com escolta policial. Nalguns casos deslocam-se de helicóptero. São protegidos por agentes de serviços secretos como o MI6, CIA e Mossad, entre outros, e por forças policiais dos países anfitriões.
Chefes de Estado, chefes de governo, presidente e comissários europeus, chefes de corporações transnacionais, gestores, professores universitários, investigadores e jornalistas podem então falar entre si sem que qualquer deles viole o código de silêncio. Podem debater o devir do mundo, a recato de ouvidos e olhos indiscretos. Editores e patrões dos media, entre eles Francisco Pinto Balsemão e Juan Luís Cebrián, asseguram que nada será noticiado sobre o acontecimento, mas que, igualmente, tudo será difundido sobre a construção da realidade aí produzida.
O código de silêncio baseia-se numa regra estabelecida em 1927 pela Chatham House, organização oficialmente conhecida por The Royal Institute of International Affairs. Os participantes «são livres de usar a informação recebida, mas não a identidade nem a filiação dos oradores, nem o que qualquer outro participante possa ter revelado». Nos casos em que a regra não é suficientemente restritiva, pode ser evocado o «off the record», o que determina que a informação não pode ser usada.

ENCONTROS DE HOTEL

Os encontros em hotéis têm uma velha tradição. Após a I Guerra Mundial, em 1919, membros das delegações norte-americana e britânica à Conferência de Paz de Paris reuniram-se no Hotel Majestic, onde acordaram na constituição de um instituto anglo-americano de assuntos internacionais, por inspiração da organização secreta The Round Table.
Para evitar reacções negativas nos respectivos países, o ramo britânico chamou-se Royal Institute of International Affairs e o ramo norte-americano foi nomeado Council on Foreign Relations. Quem financiou a constituição das duas organizações foram os banqueiros, designadamente, J.P. Morgan e John D. Rockefeller.
Dinheiro dos Rockefeller financiaram também a difusão da teoria do economista austríaco Friedrich von Hayek, aquele que é considerado o pai do neoliberalismo. De acordo com o jornalista Denis Boneau, da Red Voltaire, a sua teoria do «Estado mínimo» converteu-se na ideologia de governantes e corporações.
Agraciado com o prémio Nobel da Economia em 1974, Hayek é um feroz crítico da «justiça social». Numa obra de 1960 (La Constitution de la liberté), expôs o seu programa: desregulamentar, privatizar, reduzir as acções contra o desemprego, eliminar os apoios sociais, reduzir os gastos com a segurança social e limitar o poder sindical.
No pós II Guerra Mundial, um outro Rockefeller, David, filho de John D. Rockefeller, foi um dos fundadores do grupo de Bilderberg. A sociedade secreta deve o seu nome ao hotel onde se realizou o primeiro encontro, de 29 a 31 de Maio de 1954. Os três restantes fundadores são Denis Healey, Joseph Retinger e o príncipe Bernhard da Holanda, pai da actual monarca.
O norte-americano David Rockfeller é um dos herdeiros da fortuna dos magnatas do petróleo e da banca. Em 1946 integrou o quadro do Chase National Bank, que subsequentemente se transformou em The Chase Manhattan Bank e que é hoje o J.P. Morgan Chase & Co. Exerceu cargos de direcção e a presidência do Council on Foreign Relations entre 1949 e 1985, fundou a Comissão Trilateral em 1973 e, além de fundador do grupo Bilderberg, é membro da sua comissão consultiva. Ocupa a 253ª posição na lista dos mais ricos do mundo, publicada em 2005 pela revista «Forbes».
Denis Healey nasceu em Yorkshire, na Inglaterra, estudou em Oxford, onde chegou a associar-se ao Partido Comunista, mas, à data da fundação de Bilderberg, tinha já participado na II Guerra Mundial, na unidade da Royal Engineers das forças armadas britânicas, no Norte de África, Sicília e Itália, e era membro do parlamento britânico, eleito pelo Partido Trabalhista. Entre 1964 e 1970 ocupou o cargo de ministro da Defesa.
Desempenhou entre 1974 e 1979 o cargo de Chancellor of the Exchequer, equiparável à função de ministro das Finanças ou secretário do Tesouro noutras estruturas governativas. Durante esse período recorreu a um empréstimo do Fundo Monetário Internacional e submeteu a economia britânica à supervisão desta organização internacional. Apoiou a ascensão de Tony Blair à liderança do Partido Trabalhista, mas posteriormente tornou-se um seu crítico.
Outro dos fundadores de Bilderberg, Joseph Retinger, era polaco de nascimento, mas estudou na Sorbonne, em Paris, antes de se mudar para Inglaterra, onde privou com o novelista Joseph Conrad. Foi consultor político do Presidente do México, Plutarco Elías Calles, e durante a II Guerra Mundial aconselhou o primeiro-ministro do governo polaco no exílio, general Sikorski. Tornou-se no pós-guerra um defensor da unificação europeia e ajudou a fundar o Movimento Europeu e o Conselho da Europa.
As origens do Movimento Europeu datam de Julho de 1947. Criada no ano seguinte, esta associação internacional de pressão e influência visava coordenar os esforços e iniciativas de outras associações e indivíduos com vista à construção de uma Europa unida. Contribuiu para a criação do Conselho da Europa em 1949.
Desde a sua fundação, o Movimento Europeu tem exercido influência em diferentes assuntos. Defendeu, designadamente, a eleição directa para o Parlamento Europeu, a instituição do Tratado da União Europeia (Maastricht) e uma Constituição Europeia que consagre o federalismo. O actual presidente do Movimento Europeu é José Maria Gil-Robles (antigo presidente do Parlamento Europeu). São presidentes honorários Enrique Baron Crespo (presidente do grupo parlamentar do grupo do Partido dos Socialistas Europeus), Georges Berthoin (antigo representante da Comissão da comunidade europeia para o Reino Unido), Maurice Faure (antigo ministro e membro do Conselho Constitucional de França), Valéry Giscard d’Estaing (presidente da Convenção para o Futuro da Europa), Mário Soares (antigo Presidente da República portuguesa e actual candidato) e Gaston Thorn (primeiro-ministro do Luxemburgo).
O quarto dos fundadores do grupo Bilderberg é o príncipe Bernhard da Holanda, falecido em 2004 com 93 anos. Desempenhou um papel chave na organização e ocupou a sua presidência durante 22 anos, desde o primeiro encontro em 1954 até ao conclave de 1976, o qual acabaria por ser suspenso devido ao escândalo em que esteve envolvido. O príncipe recebeu um suborno de um milhão de dólares do fabricante norte-americano de aviões, a Lockheed Corporation, para influenciar o governo holandês a comprar aviões de combate.
Alemão de nascimento, estudou direito em Lausanne e em Berlim. Nos anos 30, após a ascensão de Adolfo Hitler ao poder, Bernhard teve treino de piloto de combate e ingressou como oficial nas SS. Casou-se, posteriormente, com a princesa Juliana da Holanda e a sua relação com os nazis manteve-se até à invasão do país pelas tropas alemãs.
A família real holandesa partiu para o exílio e o príncipe Bernhard tornou-se piloto da força aérea britânica entre 1942 e 1944, mas nem por isso ganhou a confiança dos aliados. Em 1944 tornou-se comandante das forças armadas holandesas e nessa qualidade esteve presente nas negociações do armistício.
O escândalo Lockheed não foi caso único. As investigações então conduzidas revelaram outras acções, como seja o pagamento de mais de um milhão de dólares de suborno a Juan Peron em troca da compra à Holanda de um novo equipamento de caminho de ferro destinado à Argentina. Tinha relações de amizade e esteve também envolvido com Tibor Rosenbaum, húngaro de nascimento, sionista e agente da Mossad, que fundou na Suiça o Banque du Crédit International (BCI). O banco financiava as operações da Mossad e fazia lavagem de dinheiro do império do crime controlado por Meyer Lansky.
O príncipe Bernhard contratou também um exército de mercenários, na sua maioria britânicos, para combater o tráfico de marfim em reservas selvagens no continente africano. Todavia, essa organização participava no tráfico e estava ao serviço da manutenção do apartheid na África do Sul. Planearam assassinatos de dirigentes da ANC e treinaram os grupos da UNITA e da Renamo.
A sua longa presidência e a suspensão do encontro de 1976 comprovam o importante papel que desempenhava no grupo Bilderberg. Bernhard desempenhou mais de 300 cargos em conselhos de administração e comissões em todo o mundo e marcou a estratégia secreta e de negócios da organização.
O príncipe fundador deixou Bilderberg, mas entrou uma rainha, Beatriz da Holanda, sua filha e da rainha Juliana. No período de 1982 a 2005 e de acordo com a informação relativa a 18 encontros, a monarca só esteve ausente em três deles. A rainha da Holanda e da Casa de Orange é considerada a mulher mais rica do mundo.

CORPO SUPRA-NACIONAL

O grupo considera-se uma entidade supra-governamental e supra-nacional, parte de um conjunto mais vasto de organizações que pretendem governar o mundo. O biógrafo norte-americano Alden Hatch escreveu a biografia de Bernhard. Nessa obra de 1962 e de acesso restrito, o fundador de Bilderberg exprime a opinião de que «é difícil reeducar o povo, que foi criado no nacionalismo, para a ideia de renúncia de uma parte da sua soberania para um corpo supra-nacional».
Mas essa dificuldade não impediu a sua acção. A ideia da criação do grupo partiu de Joseph Retinger que a propôs a Bernhard em 1952. Retinger contactou o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Harry Truman, cuja administração abraçou desde logo a ideia, e Bernhard envolveu líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) numa discussão aberta sobre assuntos internacionais, que decorreu à porta fechada. O primeiro secretário-geral da NATO foi o britânico Lord Ismay, empossado em 1952. Teve como vice-secretários-gerais dois holandeses, Jonkheer van Vredenburch (1952-1956) e Baron Adolph Bentinck (1956-1958).
Apesar da anuência de Truman, os contactos só foram formalizados com Dwight D. Eisenhouwer, que assumiu a presidência dos EUA em 1953. Este foi comandante supremo das forças que invadiram a França e, no pós-guerra, comandou as novas forças da NATO. A delegação norte-americana, homóloga da de Retinger e Bernhard, teve como actores chave o general Walter Bedell Smitih, Charles Douglas Jackson e David Rockefeller.
O primeiro participou na rendição formal do exército alemão em Maio de 1945, em Rheims, na França, foi posteriormente embaixador dos EUA em Moscovo, director da CIA (1950-1953) e sub-secretário de Estado da administração de Eisenhower, sobre as ordens de quem já tinha servido durante a guerra (1942-1945). O segundo foi durante a II Guerra Mundial especialista em guerra psicológica. Domínio em que continuou a trabalhar na presidência de Truman. Em 1953 e 1954 foi assessor especial de Eisenhower nas áreas de assuntos internacionais, planeamento da guerra-fria e guerra psicológica.
Bilderberg surge, pois, sob os auspícios dos militares, dos homens de negócios, de agências de espionagem e do poder político. É na sua origem um instrumento da guerra-fria que visa a unificação da Europa (incluindo a reunificação das alemanhas), a concertação de posições entre as elites deste continente e do americano, e a governação do mundo. A evolução da organização acentuou o domínio do capital financeiro e a sua influência através dos meios de comunicação social, dos meios académicos e de institutos e fundações.
De acordo com autores como David Icke e Paul Vigay (Reino Unido), que investigaram esta teia de relações de influência na perspectiva da teoria da conspiração, Bilderberg faz parte de um conjunto de organizações que pretendem governar o mundo. A sua origem é The Round Table, que foi fundada no final do século XIX por Cecil Rhodes. O seu enriquecimento proveio das minas de diamantes e ouro da África do Sul, onde Lord Rothschild, que detinha através da companhia De Beers o monopólio dos diamantes, lhe prestou apoio financeiro.
Essa associação foi criada em conjunto com um grupo de homens de Cambridge, também um feudo da família Rothschild. Após a morte de Cecil Rhodes no início do século XX, Lord Alfred Milner sucedeu-lhe no governo do império financeiro e na liderança do grupo e passou a editar a «Round Table Review». O grupo tinha dois ramos, um britânico e outro norte-americano, e, a partir dos anos 20, começou a germinar um núcleo que viria a ser apelidado Cliveden Set.
De acordo com o historiador norte-americano John Taylor, foi o jornalista britânico Claud Cockburn, fundador e editor do semanário «The Week», que cunhou o apelido ao denunciar em 1937 a simpatia pró-nazi do grupo, que preconizava um entendimento com a Alemanha de Hitler. Este núcleo teve como proeminentes membros Geoffrey Dawson, editor do «Times» de Londres, Lord Lothian e Lord Halifax.
Além do Council on Foreign Relations, do Royal Institute of International Afairs e do grupo Bilderberg, foram ainda criados The American Association for the United Nations (em 1943 e que deu origem à The United Nations Association), Clube de Roma (1968) e Comissão Trilateral (1973). A The American Association for the United Nations foi constituída por um grupo de proeminentes cidadãos norte-americanos, a que mais tarde aderiu Eleanor Roosevelt, mulher do presidente dos EUA.
Esta associação defendeu na sua origem a criação da organização das Nações Unidos. Ao fundir-se em 1964 com um grupo de 138 organizações nacionais, nasceu a The United Nations Association. Em 1999, o Business Council for the United Nations (um grupo de homens de negócios e magnatas das maiores empresas norte-americanas criado em 1958) juntou-se também à The United Nations Association, que hoje conta com 20 mil membros.
Desenvolve estudos em que envolve académicos e governos de muitas partes do mundo, estabelece a agenda de prioridades da política internacional e cria oportunidades de negócios. Faz parte da World Federation on United Nations Associations, um rede de associações congéneres criada em 1946 e presente em todos os continentes.
O Clube de Roma é uma organização que apoia uma equipa multidisciplinar de teóricos e intelectuais cuja função é produzir análises ou recomendações políticas. Foi criada em 1968 e, recentemente, em 2001, criou um núcleo destinado a jovens de 30 anos, o tt30. O Clube de Roma é presidido pelo príncipe da Jordânia, El Hassan bin Talal. Entre os membros activos conta-se uma portuguesa, a empresária portuense Estela de Magalhães Barbot, e personalidades e homens de negócios como Fernando Henrique Cardoso, Juan Luis Cebrián e José Sarney.
Entre os membros honorários contam-se Mário Soares, a rainha Beatriz da Holanda, Raymond Barre, Jacques Delors, Mikhail Gorbachev, Vaclav Havel, rei Juan Carlos de Espanha, rainha Sofia de Espanha e príncipe Filipe da Bélgica, entre outros.
A Comissão Trilateral, a última destas organizações, deve o seu nome à sua constituição regional tripartida. É constituída por um grupo europeu de 21 países e 150 membros, por um grupo americano de três países e 110 membros e um grupo asiático de 12 países e 117 membros. As maiores representações nacionais são as dos EUA (85 membros) e do Japão (75 membros). O grupo português da Trilateral foi criado em 1980 e tem direito a uma quota de cinco membros.
Peter Sutherland preside à estrutura da Europa, Thomas Foley à da América do Norte e Yotaro Kobayashi à da Ásia Pacífico. Jorge Braga da Macedo faz parte da comissão executiva da Trilateral e preside, conjuntamente com Francisco Pinto Balsemão, ao Fórum Portugal Global (FPG), uma associação de empresas portuguesas cuja missão é promover a participação portuguesa na Comissão Trilateral.
Jorge Braga de Macedo integra a comissão de honra da candidatura de Cavaco Silva à presidência da República e faz parte do Compromisso Portugal. É professor da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, presidente do Instituto de Investigação Científica Tropical e foi ministro das Finanças de Cavaco Silva. Mais dois membros da Trilateral (Diogo Vaz Guedes e Estela Barbot) e outros dois do FPG (António Carrapatoso e António Gomes de Pinho) fazem parte da candidatura de Cavaco Silva.

O TABULEIRO DE BILDERBERG

O tabuleiro de Bilderberg é o campo de acção dos poderosos do mundo. Tal como no xadrez, há uma carga simbólica que é intrínseca ao conjunto das peças. Reis, governantes, poder económico, poder militar, poder simbólico, cavaleiros e peões, todos estão aí representados. Embora a guerra não seja travada naquele tabuleiro, também aí se desenrolam jogos de poder e de interesse. E, como noutras instâncias, a representação norte-americana tem um domínio preponderante.
A estrutura de Bilderberg é constituída por uma comissão consultiva de quatro membros (David Rockefeller – EUA, Eric Roll of Ipsden – Reino Unido, Giovanni Agnelli – Itália e Otto Wolff von Amerongen – Alemanha) e por uma comissão de direcção de 31 membros, presidida por Etienne Davignon (Bélgica) e que tem como secretário-geral J. Martin Taylor (Reino Unido). Cerca de 120 pessoas participam em cada conferência. Convidada pelo membro da direcção do respectivo país, cada delegação nacional deve assegurar um equilíbrio tripartido entre empresários, políticos e intelectuais.
Do conjunto das 53 conferências realizadas entre 1954 e 2005, há dados e listas de participantes relativamente a 18 encontros. Reportam-se aos conclaves realizados desde 1982, com excepção dos anos de 1983 a 1987 e 1990. Nesses 18 encontros participaram 902 pessoas, o que se traduz em 1.987 presenças, atendendo a que 305 dos conferencistas participaram em mais do que um dos conclaves.
Das 902 pessoas, 54 pertenciam a instituições internacionais e os restantes participaram em delegações de 35 países. A delegação norte-americana nestes 18 encontros foi constituída por 218 pessoas (25,7% do total) com 501 presenças (27,7%). O segundo país com maior número de pessoas é o Reino Unido. Participaram 65 pessoas (7,7%) com 133 presenças (7,4%).
Há outros 16 países cujo número de participantes é igual ou superior a 14 pessoas. Os primeiros 18 países asseguraram em 18 anos 95,2 por cento dos conferencistas. De acordo com a listagem de pessoas e por ordem decrescente, o terceiro país é o Canadá (6,6%), seguido pelos restantes 15: Alemanha (6,5%), França (6,1%), Itália (4,6%), Portugal (4,4%), Holanda (4,3%), Turquia (3,8%), Finlândia (3,7%), Áustria (3,5%), Grécia (3,5%), Suécia (3,4%), Noruega (2,8%), Suiça (2,6%), Espanha (2,2%), Bélgica (2,1%) e Dinamarca (1,7%).
David Rockefeller, Henry Kissinger, Vernon E. Jordan, Jr e Victor Halberstadt participaram em todos os 18 encontros. Os três primeiros são norte-americanos, membros do Council on Foreign Reletions e da elite empresarial. O quarto é holandês, professor de economia e ex-secretário-geral do grupo Bilderberg.
Com 17 participações surgem Etienne Davignon (Bélgica) e Francisco Pinto Balsemão, com 16 presenças Marie-Josée Kravis (Canadá) e Thierry de Montbrial (França) e com 15 a rainha Beatriz (Holanda), Eric Roll of Ipsden (Reino Unido) e James D. Wolfensohn (EUA). São ao todo 45 os conferencistas que participaram em mais de nove encontros, entre os quais avulta a elite capitalista, membros da Comissão europeia, governantes, dois presidentes do Banco Mundial, um do Banco Central Europeu, um secretário-geral da NATO, diversos professores e vários jornalistas.
De acordo com um levantamento incompleto, nas conferências de Bilderberg participaram, designadamente, nove chefes de Estado, 27 chefes de governo, 97 governantes, 42 deputados de parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu, 15 senadores, 20 conselheiros políticos, 24 dirigentes de partidos, sete sindicalistas, 103 jornalistas, 50 professores universitários, 244 magnatas, 47 banqueiros, 20 gestores de bancos nacionais, quatro do Banco Mundial e três do Banco Central Europeu.
A Comissão Europeia tem uma representação qualificada em Bilderberg. Os seus três últimos presidentes foram conferencistas. Além de Jacques Santer, que presidiu à Comissão entre 1995 e 1999, também o vice-presidente Léon Brittan e os comissários Karel Van Miert, Mário Monti e Erkki Liikanen estiveram em Bilderberg.
Estes dois últimos integraram a Comissão presidida por Romano Prodi, ele também um conferencista de Bilderberg. Na sua presidência, entre 1999 e 2004, outros nove comissários participaram nos encontros: Loyola de Palácio, Frits Bolkestein, Gunter Verheugen, Pascal Lamy, David Byrne, António Vitorino, Anna Diamantopoulou, Pedro Solbes e Joaquin Almunia.
Na Comissão de Durão Barroso, têm lugar cinco conferencistas de Bilderberg. Além do presidente e de dois comissários de Prodi que herdou (Verheugen e Almunia), também Neelie Kroes e Peter Mandelson participaram nos encontros do grupo. Apenas um presidente do Parlamento Europeu, Pat Cox, que exerceu o mandato entre 2002 e 2004, participou no conclave.
Pelo contrário, os secretários-gerais da NATO estão em permanência ao serviço de Bilderberg. Pelo menos nove dos 11 titulares da organização foram nomeados para o cargo após passarem pelos encontros: Dirk U. Stikker (mandato de 1961 a 1964), Manlio Brosio (1964-1971), Joseph Luns (1971-1984), Lord Carrington (1984-1988), Manfred Wörner (1988-1994), Willy Claes (1994-1995), Javier Solana (1995-1999), Lord Robertson (1999-2003) e Jaap de Hoop Scheffer (desde 2004).
Também Bill Clinton e Angela Merkel foram introduzidos em Bilderberg antes de ascenderem à presidência dos EUA e à chancelaria da Alemanha. Não são casos únicos, mas uma prática corrente. Clinton esteve presente em Baden-Baden, na Alemanha, em 1991, e a nova chanceler alemã em Rottach-Egern, também na Alemanha, no corrente ano.
O grupo não se limita a seleccionar os governantes, a abrir-lhes a porta do poder ou a indicar-lhes a saída. Controla os negócios, manipula as finanças mundiais e determina a evolução da economia. Estabelece a agenda que garante a reprodução do seu poder e o enriquecimento dos seus membros. A moeda europeia, o Tratado de Nice ou a Constituição europeia foram temas discutidos em Bilderberg antes do seu debate na União Europeia.
Em 1993, por exemplo, a conferência procedeu à abordagem sobre o tipo de Europa com a qual os Estados Unidos deviam lidar, bem como o custo da indiferença face à ex-União Soviética. No ano seguinte, analisaram a redefinição das relações atlânticas num tempo de mudança e o comércio mundial. Encetaram desde então um debate anual sobre o fundamentalismo islâmico.
O futuro da NATO, o exército norte-americano, o modelo social europeu, o alargamento da União Europeia, as relações com a China, a globalização e a governação corporativa, o terrorismo e a guerra no Iraque estiveram na agenda de diversas conferências. Na conferência realizada em Maio deste ano, a discussão incidiu sobre o Irão, o Iraque e o Médio Oriente em geral, sobre a China, a Rússia, as relação EUA-Europa e sobre o estado da economia mundial.
Em Bilderberg, os poderosos do mundo ensaiam as jogadas do xadrez global. Refinam a sua arte de guerra, fazem avançar os cavalos e as torres. Alinham todas as suas forças para policiar o mundo e multiplicar os seus lucros.

ORLANDO CÉSAR

Fontes do dossier Bilderberg:
Biografias e/ou currículos de todos os citados; história, missões e objectivos das organizações citadas; sítios na Internet de instituições, organizações internacionais, como a NATO e CIA, administrações e governos nacionais e instâncias internacionais como a União Europeia; sítios na Internet com artigos e bibliografia sobre Bilderberg; sítios na Internet com informação sobre a lista de conferencistas, designadamente, o Bilderberg.org, criado e mantido por Tony Gosling, e a Wikipedia, the free encyclopedia online.

in revista «Função Pública», da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública, nº 3, Dezembro de 2005

in http://www.noticiasdaamadora.com.pt/nad/artigo.php?aid=7732